Nosso Blog

Controle Tecnológico do Concreto: Como Fazer

Concreto é um assunto de interesse de todo engenheiro(a) ou estudante de engenharia, já que é o material mais usado do mundo em construções. O concreto na grande maioria das vezes desempenha função estrutural, então ele requer muitos cuidados. Seja na escolha de matérias primas, na dosagem, no preparo.

E como é que na obra, eu vou saber se o concreto realmente está como foi previsto ou não? É justamente pra isso que na obra é feito o controle tecnológico. Por isso aqui vamos tratar de como fazer o controle tecnológico do concreto.

  1. Concreto dosado em central e concreto virado na obra

      A primeira coisa que nós precisamos entender é que existe o concreto virado em obra e o concreto dosado em central.

      O concreto virado em obra, como o nome já sugere é aquele concreto que é produzido no canteiro de obra, geralmente, usando uma betoneira estacionária.O concreto dosado em central é aquele que é produzido por uma usina. Esse é o mais utilizado atualmente, já que a maioria das obras precisam de um grande volume de concreto.

      Essas usinas dosam o concreto de acordo com o pedido que foi feito pela obra, e vão adicionando os componentes dentro do caminhão betoneira (aqueles caminhões que nós costumamos ver na rua com que tem um reservatório girando na parte traseira), a água, o cimento, os agregados, e possivelmente um aditivo.

  • Porque usar aditivos?

      Esse caminhão betoneira faz o transporte do concreto da usina até a obra e é aí que entram o aditivo. Muitas vezes a obra não está localizada perto da usina, as vezes demora 1, 2h para que o caminhão chegue a até a obra, e na obra é preciso um tempo para que esse concreto seja lançado que geralmente é de pelo menos 2h.

      O aditivo colocado é um aditivo retardador de tempo de pega, o tempo de pega é o tempo que leva para o concreto começa a endurecer, então a intenção ao adicionar um retardados de pega é garantir que o concreto não vai iniciar a pega antes de chegar até a obra e que haverá tempo suficiente para que esse concreto seja descarregado e lançado.

      Todo aditivo é retardador de pega?

      NÃO! Os retardadores de pega estão entre os mais usados, mas existem muitos outros aditivos para concreto, se você quiser entender um pouco mais sobre os outros tipos. No nosso canal do youtube tem um vídeo falando sobre os principais tipos de aditivos.

      Vamos finalmente para a parte do controle.

  1. Controle tecnológico no estado fresco

      O controle tecnológico do concreto é divido em dois: controle no estado fresco e controle no estado endurecido.

Figura 2 – Concreto fresco.
Figura 3 – Corpo de prova de concreto endurecido.

      Quando o concreto é produzido em usina assim que o caminhão betoneira chega na obra, o primeiro passo é conferir os dados na nota fiscal

  • Conferir a nota fiscal: passo a passo

      Quais são esses dados que eu vou conferir?

      A primeira coisa que você vai conferir é se o endereço da obra está correto, pode acontecer de um concreto pedido por outra obra acabar indo parar na sua por engano.  Feito isso você vai anotar o horário que o caminhão saiu da usina e o horário que ele chegou na obra.

      A segunda é conferir o lacre. O caminhão betoneira chega na obra com um lacre que precisa ser rompido para que o concreto seja descarregado. Isso garante que o volume de concreto que chegou na obra é o mesmo que saiu da usina, ou seja, o volume que você solicitou.

      Se esse lacre estiver rompido o concreto deve ser rejeitado, já que você não tem como saber o que houve no percurso para que ele fosse rompido. Pode ser que parte do concreto tenha sido descarregado em outro local e você esteja pagando uma determinada quantidade e recebendo uma quantidade menor. O lacre vem com um número e você também deve conferir se esse número é o mesmo que veio na sua nota fiscal.

Figura 4 – Lacre do caminhão betoneira.

      Depois disso você vai conferir se o concreto tem as características que você pediu.

      Por exemplo, se você pediu 8 metros cúbicos de um concreto de Fck(que é a resistência característica) de 30 Mpa e slump de 120. Você vai conferir na nota o fck informado, o volume e o slump.

      Mas o que é o slump? Calma que eu já vou explicar daqui a pouco!

      Feito isso você vai anotar o horário que o caminhão saiu da usina e o horário que chegou na obra. Se tudo estiver de acordo você vai dar início ao processo de descarga.

      Quer dizer que depois disso o concreto já foi aceito?

      Ainda não! Durante o processo de descarga é extremamente importante fazer o ensaio de consistência que é o slump test.

Figura 5 – Slump test.

      Também preciso fazer isso pro concreto virado na obra?

      Você não vai conferir dados de nota fiscal é claro, porque o concreto vai ser produzido pelos seus próprios operários. Mas os testes de consistência continuam valendo.

      Quando for iniciar a descarga do caminhão você deve anotar o horário de início e de fim da descarga. Feito isso você vai dar início aos testes de consistência.

      Segundo a norma que versa sobre o controle tecnológico do concreto (que é a ABNT NBR 12655), o slump test deve ser feito depois que já tenha sido descarregado meio metro cúbico de concreto. Mas, usualmente na obra o slump test é feito antes de iniciar realmente a descarga.

  • E como é que funciona o slump test?

      No slump uma amostra do concreto é coletada e com ela se preenche uma peça em formato de cone, como essa peça que você está vendo a na imagem.

Esse preenchimento não pode ser feito de qualquer maneira e existe uma forma correta para fazer o adensamento do concreto dentro do cone (3 camadas com 25 golpes em cada uma). Então muito cuidado, não faça isso de qualquer jeito na sua obra.

      O método correto para fazer isso é descrito na NBR NM 67, você deve seguir os passos descritos nela. Depois de preenchido o cone você vai medir o abatimento, que é a diferença entre a altura do cone e a altura do concreto depois que ele foi removido.

      Vamos supor que foi pedido um concreto de slump 120.

      Na nota fiscal do concreto virá descrito 120 mais ou menos 20 por exemplo, ou concreto de classe S100, o que significa que slump deve estar entre 100 e 160.

      Supondo que você fez o slump teste e o abatimento foi de 110 milímetros, esse concreto está aceito? SIM! Desde que esteja no intervalo determinado, está aceito.

      E se estiver fora?

      Se tiver fora e o slump estiver acima do intervalo, o concreto deve ser rejeitado. Esse abatimento acima do previsto pode significar excesso de água no concreto, o que gera perda de resistência, e não tem como remover água da mistura.

      E se estiver abaixo?

      Se estiver abaixo, por exemplo 90, nesse caso que estamos supondo.

       Você vai tentar fazer com que ele chegue no intervalo que você quer!

      Como?

      Na sua nota fiscal haverá uma informação que determina o limite de água adicional, geralmente a usina remove um pouco de água do traço e deixa como reserva para ser usado nesse tipo de problema.

      Supondo que o limite determinado na nota fiscal seja 50 litros. Então você pode adicionar até 50 litros pra tentar atingir o slump correto.

      Você deve de preferência adicionar aos poucos a quantidade de água para não correr o risco de adicionar demais e o abatimento ficar maior que o permitido e aí não tem mais como remover e o concreto não pode mais ser usado.

      Já usei o limite de água adicional e mesmo assim ainda não consegui atingir o slump desejado. O que fazer?

      Nesse caso o concreto deve ser rejeitado, nunca devemos adicionar mais água que o determinado no limite reserva por que isso baixa consideravelmente a resistência do concreto podendo causa problemas estruturais.

      Para o controle no estado endurecido é preciso fazer a moldagem de corpos de provas e realizar ensaios um pouco mais complicados para checar principalmente a resistência desse concreto.

  1. Controle tecnológico no estado endurecido

     Para fazer o controle do concreto no estado endurecido é preciso moldar corpos-de-prova (CPs), realizar ensaios e realizar alguns cálculos para determinar se o concreto está aprovado ou reprovado

     O primeiro passo é fazer a divisão dos lotes:

Divisão dos lotes

     A divisão dos lotes é definida pelo responsável pela concretagem e precisam atender os quesitos da ABNT 12665. Os requisitos são mostrados na tabela abaixo. Sendo peças submetidas a compressão os pilares, a compressão e flexão peças protendidas, e flexão simples vigas e lajes.

Quanto maior o número de lotes mais preciso será o controle, contudo, também será mais caro.

Figura 6
  • A amostragem pode ser parcial ou total

      A amostragem total normalmente é feita quando o concreto é dosado em central (são retirada amostradas para formar exemplares de cada caminhão betoneira) e a amostragem parcial é feita quando é virado na obra (são retiradas amostras para formação de exemplares de betonadas aleatórias).

Exemplar: cada exemplar é composto por dois corpos de prova.

      Na amostragem parcial o número de exemplares é no mínimo 6 para concreto de resistência a compressão entre 10 e 50 Mpa e no mínimo 12 para concretos acima de 50 Mpa. Na amostragem total não tem limite para a quantidade de exemplares.

      Esses exemplares serão rompidos em laboratório aos 28 dias de idade, a resistência de cada exemplar é igual aquele que tem maior valor de resistência a compressão.

Exemplo:

Exemplar 1: CP 1 = 30,1 Mpa ; CP 2 = 29,4 Mpa à Resistência do exemplar é 31,1.

Exemplar 2: CP 1 = 24,5 Mpa ; CP 2 = 27,3 Mpa à Resistência do exemplar é 24,5.

      Com os resultados de laboratório sobre a resistência dos CPs, deve-se fazer os cálculos para determinar a resistência estimada do lote.

  • Cálculo para amostragem parcial: (Número de exemplares de 6 a 19):

Figura 7

-Onde o valor do fck estatístico se dá pela fórmula acima. Onde os “f “são os valores em ordem crescente de resistência e o “m” é o valor n/2 (para valor ímpar, toma-se o de maior valor).

– n é o número de exemplares

OBS1: Não se pode tomar por fck estatístico um valor menor que Ψ * f1. (valor tabelado por número de exemplares. A condição de preparo citada deve-se ao desvio padrão tomado no cálculo do fck, condição A (4,0 MPa), B (5,5 MPa) e C (7,0 Mpa). A determinação da condição do concreto depende do seu preparo e está especificado na norma.

Figura 8
  • Amostragem parcial para 20 ou mais exemplares, onde n é o número de exemplares:
Finura 9

Onde:
– “fcm” é a resistência média dos exemplares.

– ”Sd” é o desvio padrão utilizado nessa amostra.

OBS1.2: A condição de preparo citada deve-se ao desvio padrão tomado no cálculo do fck, condição A (4,0 MPa), B (5,5 MPa) e C (7,0 Mpa). A determinação da condição do concreto depende do seu preparo e está especificado na norma.

  • Para amostragem total

     Para a amostragem total o Fck estatístico é igual ao Fck do exemplar da betonada (ou caminhão betoneira).

  • Aceitação ou rejeição do lote de concreto:

     Se os resultados obtidos nos cálculos derem um Fck estatístico maior ou igual ao determinado em projeto o concreto está aceito. Se os resultados forem um valor inferior, é necessário levar os resultados a um calculista estrutural que irá determinar o que dever ser feito.